A profissão jurídica está em meio a uma transformação acelerada, impulsionada pela tecnologia. O equilíbrio entre vida profissional e pessoal, antes secundário, agora é prioridade tanto para lideranças quanto para advogados.
Os profissionais estão reavaliando suas prioridades, buscando harmonizar suas aspirações com suas necessidades pessoais, enquanto se adaptam a novas ferramentas digitais que redesenham suas rotinas.
Historicamente, a carreira jurídica foi sinônimo de longas jornadas e sacrifícios pessoais. O sucesso era medido pelas horas dedicadas ao trabalho e pela ascensão hierárquica. Entretanto, essa visão tradicional está sendo desafiada por uma nova concepção de sucesso.
Geração Z, por exemplo, rejeita o modelo tradicional exaustivo, exigindo mais flexibilidade e qualidade de vida. Os mais jovens não aceitam passar longas horas no escritório em troca de salários pouco atraentes, preferindo ambientes que valorizem o bem-estar.
Em contrapartida, as gerações anteriores, que hoje ocupam muitos cargos de liderança, resistem a essas mudanças, mantendo a ideia de que o sucesso ainda depende de longas horas de dedicação presencial. Essa tensão geracional representa um dos desafios que os escritórios de advocacia precisam enfrentar, equilibrando expectativas distintas entre seus membros.
O ponto central dessa transformação é a flexibilidade. A liberdade de escolher como, onde e para quem trabalhar, antes uma raridade, tornou-se uma realidade amplamente adotada. O trabalho remoto, por exemplo, passou de exceção a regra, permitindo que advogados atuem de qualquer lugar do mundo, sem comprometer a qualidade das entregas. Pelo contrário, essa mudança frequentemente melhora a produtividade, pois profissionais satisfeitos tendem a ser mais criativos e eficazes.
Além disso, a flexibilidade promove a diversidade de experiências e oportunidades, permitindo que os advogados explorem novas áreas, colaborem com uma gama variada de clientes e participem de projetos inovadores. Sem a necessidade de presença física em escritórios centrais, o ambiente de trabalho torna-se mais dinâmico e enriquecedor, resultando em melhores entregas e profissionais mais engajados.
A tecnologia tem desempenhado um papel fundamental nessa transformação. Ferramentas de gestão de casos e plataformas de colaboração online permitem que advogados resolvam questões de forma ágil, de qualquer local. A integração tecnológica não só aprimora a eficiência, mas também oferece aos líderes a capacidade de monitorar a performance das equipes em tempo real, promovendo uma cultura de responsabilidade e transparência.
O grande desafio para os líderes dos escritórios de advocacia é equilibrar a produtividade com a flexibilidade que os profissionais mais jovens demandam. Esse novo cenário exige que a liderança adote uma postura mais empática e focada em resultados, utilizando ferramentas digitais para garantir que os advogados mantenham a qualidade do trabalho e, ao mesmo tempo, se sintam satisfeitos com suas rotinas.
O sucesso nesse modelo híbrido dependerá da habilidade dos líderes em criar um ambiente de confiança, onde a flexibilidade seja vista como inovação e não como concessão.
Essa mudança no equilíbrio entre vida profissional e pessoal reflete também uma transformação cultural mais ampla dentro da advocacia. Escritórios estão percebendo que o bem-estar de seus profissionais é crucial para o sucesso a longo prazo. Iniciativas como apoio à saúde mental, horários flexíveis e políticas de licença parental estão sendo implementadas para criar um ambiente de trabalho mais humano e sustentável.
Essa transformação está sendo conduzida por uma nova geração de advogados que valoriza tanto a qualidade de vida quanto a excelência profissional. Eles estão questionando normas tradicionais e moldando uma nova forma de trabalhar, que prioriza o bem-estar. Esse movimento ainda está em seus primeiros passos, mas promete redefinir a carreira jurídica, tornando-a mais inclusiva, adaptável e centrada no profissional.
À medida que mais advogados e escritórios adotam essa abordagem flexível e tecnológica, a profissão se torna não apenas mais resiliente, mas também mais inovadora. O futuro da advocacia será definido por aqueles que conseguirem equilibrar as demandas de um ambiente de trabalho moderno com expectativas de produtividade e qualidade de vida, promovendo uma liderança que valorize a eficiência e o bem-estar.
Por Danielle Braga Monteiro e Renata Martins Belmonte
Sócia e gerente do Albuquerque Melo Advogados, respectivamente.
Publicado por Folha de Pernambuco