Lula sancionou uma lei que prevê igualdade salarial entre homens e mulheres, mas muitas executivas fogem do padrão de inferioridade e exercem suas funções ganhando até mais do que os homens.
disparidade salarial entre os gêneros é uma realidade no Brasil, onde as mulheres recebem significativamente menos do que os homens, mesmo desempenhando as mesmas funções. A recente sanção da lei de igualdade salarial pelo presidente Lula tem como objetivo promover maior justiça nas relações trabalhistas.
Em um cenário onde a desigualdade de remuneração persiste, algumas mulheres já estão recalculando a rota e conquistando o merecido espaço, com salários até mais altos do que os dos homens. Essa virada na mesa acontece num momento em que as empresas decidem promover a equidade no ambiente corporativo tendo como um dos seus propósitos agregarem valor aos negócios e também usufruírem das vantagens que a liderança feminina traz para os resultados de seus empreendimentos.
Para Roberta Pires, diretora de expansão da rede de franquias de farmácias de manipulação A Fórmula, mulheres têm mais sensibilidade para resolver situações que, muitas vezes, são mais comportamentais do que processuais nas empresas, além de exercerem multitarefas e estarem mais conectadas com os colegas.
As mulheres, segundo a última pesquisa do IBGE, ocupam 37% dos cargos de liderança no Brasil
“Em todos os cargos de liderança que ocupei, nunca pensei em privilegiar homens ou mulheres, sempre busquei competências e conhecimentos técnicos, mas, coincidentemente, sempre tive times predominantemente femininos. Espero que a lei atenda a todas as mulheres que passam por esse tipo de situação. É difícil imaginar que em 2023 ainda tenhamos que enfrentar esse tipo de distinção”, justifica.
Para Cristiane Ribeiro Mendes, que é co-fundadora e CEO do Chiefs Goup – plataforma que conecta empresas a executivos (as) seniores, não há mais espaço para empresas que não priorizem a equidade nas organizações. “A tendência é que o mercado seja cada vez mais exigente com relação à igualdade de gênero. Quem não implantar políticas que promovam a equiparação salarial e não valorizar mulheres talentosas, colocando-as em cargos de liderança, estará limitando o crescimento da própria empresa”, afirma.
Segundo levantamento da MCKinsey, empresas com diversidade de gênero faturam 21% a mais em comparação com outras do mesmo segmento que não têm essa valorização
A gerente do departamento trabalhista da Crowe Macro Auditoria e Consultoria, Marília Queiroz de Oliveira, que gerencia diretamente 13 pessoas, mostra que é possível ter o salário igual aos demais gerentes homens de outros departamentos, e até maior.
“A empresa possui um plano de cargos e salários estruturado, que é respeitado. Se o cargo for o mesmo, o salário também é o mesmo, independente do sexo. Para crescer dentro do plano de cargos e salários, a empresa realiza avaliações periódicas para analisar o desempenho de cada um”, justifica.

A busca pela paridade salarial é um passo importante para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa. A legislação sancionada recentemente por Lula representa um avanço significativo nesse sentido, mas enfrentará um grande desafio. De acordo com pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 57ª posição em um ranking de 146 países em relação à paridade de remuneração entre homens e mulheres.
Segundo o estudo, as mulheres brasileiras ganham, em média, 17,4% a menos do que os homens. Embora o País tenha melhorado sua posição desde 2022, quando ocupava o 94º lugar, ainda está atrás de nações como Chile (27º), Peru (34º) e Argentina (36º).
Mas já é possível perceber que a valorização da equidade salarial no mercado de trabalho vem ganhando cada vez mais espaço, movimentando as empresas.
De acordo com o estudo “A diversidade como alavanca de performance”, da MCKinsey, empresas com diversidade de gênero faturam 21% a mais em comparação com outras do mesmo segmento, que não valorizam essa questão em seus quadros corporativos.
“Aqui no escritório Albuquerque Melo, as mulheres sempre tiveram vez e voz, especialmente nos cargos de liderança, porque enxergamos que as mulheres – e as mães – desenvolvem habilidades importantes para solução de problemas e gestão de crise. Valorizamos demais essa experiência”, afirma Cristiane Secco, Chief Legal Officer do escritório Albuquerque Melo Advogados.
A nova lei
Embora já estivesse prevista na Constituição, salários iguais para homens e mulheres que desempenham a mesma função, no Brasil isso ainda não é a realidade. Mas, a partir de agora, tanto os empresários, como as mulheres que se sentirem injustiçadas, têm uma nova lei para se protegerem.
Sancionada por Lula no início de julho, a lei 14.611, que altera o artigo 461 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) sobre a igualdade salarial e os critérios de remuneração entre mulheres e homens, prevê que, se descumprida, a legislação estabelece multa equivalente a 10 (dez) vezes o valor do novo salário devido pelo empregador ao empregado discriminado. Em caso de reincidência, o valor dobra.
Para Izabella Alonso Soares, advogada trabalhista e especialista em ESG, esta lei é um avanço porque traz sanções e procedimentos que as empresas têm que adotar para fortalecer a transparência salarial: “É um grande passo para que as mulheres conquistem melhores condições no mercado de trabalho. A partir de agora, o empregador que não estabelecer critérios para uma política salarial igualitária para todos os empregados, poderá ser punido”, explica Izabella.
Publicado por Istoé