Apesar da alta do dólar e das diárias com preços elevados, agências de viagens registram alta nas vendas de pacotes.
Mesmo com a alta dos preços e a desvalorização do real, as agências de viagem têm registrado aumento considerável nas vendas de pacotes para o fim do ano. Com o avanço da vacinação contra a covid-19 e liberação de fronteiras, os empresários afirmam que os clientes ganharam confiança para escolher os destinos e saírem de casa nesta época do ano.
De acordo com a CVC, de agosto para setembro deste ano, houve aumento de 68% nas compras de passagens nacionais e internacionais para o mês de dezembro. Os destinos nacionais mais procurados são Porto Seguro-BA, Salvador, Gramado-RS e Maceió. Já as viagens para fora do país mais procuradas são: Cancún (México), Punta Cana (República Dominicana), Dubai (Emirados Árabes), Paris (França) e Orlando (Estados Unidos).
Presidente da CVC Corp, Leonel Andrade explica que o fim deste ano terá impacto positivo devido à demanda reprimida durante os quase dois anos de restrições da pandemia. “E ainda há dois fatores. A população que tinha viagem marcada em 2020 e não viajou tem crédito. E há aqueles que, com o avanço da vacinação, estão voltando à programação de viagem. Neste mês de outubro, registramos 10% de aumento de pacotes em relação ao mesmo período de 2019. A tendência é de crescimento nos próximos meses”, esclarece.
Leonel acrescenta que, assim como a demanda, os custos para viajar também estão elevados. “Os preços estão subindo, e vão subir ainda mais. Com a alta do dólar, do petróleo e dos combustíveis, as passagens aéreas vão ficar mais caras. Mas as pessoas estão com vontade de viajar, então em uma viagem que normalmente duraria 10 dias tende a durar de cinco a seis”, conclui o empresário.
Moradora do Sudoeste, a advogada Tathiane Viggiano, 46, comprou passagens para passar o Natal e celebrar a chegada de 2022 em Belo Horizonte com os dois filhos gêmeos de 8 anos. De 20 de dezembro a 4 de janeiro, ela voltará à cidade natal para visitar a família, o que já foi mais em conta em outros anos. “O preço está um absurdo. Com a impossibilidade das pessoas viajarem para fora do país, os voos domésticos estão todos lotados. A quantidade de horário que tínhamos antes era melhor; hoje a gente tem menos variedade de voos”, comenta.
Há 14 anos em Brasília, a advogada conta que conseguiu desconto nas passagens, que custaram R$ 1,6 mil. “Eu costumava pagar, em anos anteriores, em torno de R$ 800 para ir e voltar. Viajar para fora do país é inconciliável, mas dentro do Brasil eu viajei para o Rio de Janeiro, outubro. Acho que o aumento da vacinação faz com que a gente se sinta seguro. Eu mesma estou com as duas doses e, por isso, resolvi viajar com os meus filhos”, diz.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Turismo no Distrito Federal (Sindetur-DF), Lamarck Rolim, o setor de turismo foi o mais impactado pela pandemia da covid-19. “Nossas vendas foram interrompidas (no fim de 2020) e agora, gradativamente, estamos em processo de recuperação. Com o avanço da vacinação e a chegada (da) alta estação, já temos efetivo aumento de demanda. É fato que o câmbio desfavorável ao viajante tem impacto direto nas vendas. E neste momento, temos o melhor do turismo mundial para oferecer aos nossos clientes: o Brasil”, declara.
Lamarck assegura que as pessoas marcaram viagens até por necessidade de sair de casa. “O raciocínio é o mesmo: as pessoas querem (viajar). Eu diria até que ‘precisam’ e vão viajar. Os detalhes serão resolvidos com o apoio técnico de um agente de viagem credenciado. Temos uma demanda reprimida, portanto, os diversos públicos estão buscando suas alternativas de viagem conforme sua condição pessoal ou familiar”, comenta o presidente da Sindetur-DF.
O coordenador de Negociações e Produtos da Bancorbrás Turismo, Christian Soliva, estima que as vendas de fim de ano em comparação a 2020 cresceram mais de 80%, pois os clientes estão saindo do que ele chama de “zona de medo”, com influência do avanço da vacinação. “Com a abertura dos hotéis, tendo os níveis de segurança exigidos pelos órgãos sanitários, e a reabertura das fronteiras internacionais, o nosso público que é, em grande parte, de terceira idade, se viu menos oprimido para ficar em casa”, reconhece.
Do início de agosto até 25 de outubro, a Bancorbrás Turismo calcula quase 4 mil reservas pelo Brasil para o réveillon. No DF e em cidades próximas, a empresa conta com mais de 30 reservas em hotéis para a virada de ano, com a maioria de turistas vindo de outras unidades da Federação. “Tem muita marcação para Caldas Novas, em que temos rede de hotéis próprios. As pessoas acabam marcando também em hotéis fazenda, que têm piscina ou ficam à beira de lago”, explica Christian.
Viagem em grupo
A engenheira civil Renata Gontijo, 42 anos, vai passar as férias escolares com as duas filhas gêmeas, de 9 anos, junto dos colegas de escola das meninas e os respectivos pais em um resort de Serrambi, praia do município de Ipojuca-PE. O grupo com cerca de 30 pessoas vai ficar de 9 a 16 de janeiro no local. Para a moradora do Sudoeste, o fato de todos os adultos estarem vacinados com a segunda dose contra a covid-19 dá segurança para ela viajar nesse período.
“A gente convive junto na escola, então decidimos passar esse tempo com eles. Como eu tinha ido lá outras vezes, negociei a estadia direto com o hotel, e a passagem comprei à parte. Já fiz outras viagens na pandemia, mas só para casa alugada, justamente porque eu estava com medo de aglomeração. Como lá é um resort aberto, o restaurante é aberto e tem barracas de praia distantes umas das outras estou confiante e animada”, conta Renata.
Um dos sócios da Clube Turismo Brasília, no Sudoeste, Thyago Oliveira, 36, destaca que a alta do dólar em relação ao combustível influenciou no aumento dos preços das hospedagens. “A hotelaria aproveitou o aumento da demanda e elevou os valores das diárias. Passar um réveillon no Nordeste, fazendo um comparativo com o Caribe, fica praticamente igual. Uma diária num resort de alto padrão gira em torno de R$ 1,5 mil. O que muda é o valor da passagem aérea, mais cara para o exterior”, esclarece o empresário.
Adriano Sales, 43, sócio-proprietário da Merkabá Viagens e Turismo, voltada principalmente para o turismo católico, teve alta de 5% nas vendas de fim de ano em comparação com o mesmo período de 2020. “O nosso trabalho neste ano é tentar remarcar os grupos que sairiam no ano passado. A vacinação contribuiu para que as pessoas pudessem circular com mais tranquilidade. E o brasileiro é assim, enquanto não tiver confiança, não viaja”, expõe. Adriano destaca o aumento no preço dos pacotes turísticos internacionais devido à crise sanitária provocada pela covid-19. “A gente vendia com frequência antes da pandemia, onde o dólar estava aproximadamente a R$ 3,50. Um pacote internacional que custava R$ 13 mil, hoje, está custando R$ 22 mil”, compara Adriano.
Orientações
O consultor de viagens da Luxury Travel, de Vicente Pires, Samuel Souza dá dicas de viagem para as pessoas evitarem transtornos e curtirem com tranquilidade as viagens de fim de ano. Quando se trata de companhias aéreas, ele orienta que os passageiros tenham um plano B. “Tem a vantagem de chegar cedo no aeroporto. Se a pessoa marcou um embarque às 9h, e foi cancelado, às vezes pode embarcar em um voo mais cedo. O check-in on-line também é fundamental, porque evita o overbook, que ainda acontece, que é quando a companhia aérea reserva mais do que o avião pode suportar”, aconselha.
Ele cita que Portugal é o destino internacional mais procurado na empresa devido à flexibilização de entrada na fronteira do país europeu. “Dos (pacotes) nacionais, o Natal Luz de Gramado tem sido a preferência, seguido dos resorts da Praia do Forte-BA. Em termos de porcentagem, o (destino) internacional está próximo dos 40% de minha demanda — antes da pandemia, em dezembro de 2019, representava quase 90% das vendas”, detalha.
No fim de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019, ele conta que a queda das vendas foi de, aproximadamente, 80%. “Os países ainda estavam bloqueados e, no Brasil, ainda tínhamos decretos locais proibindo o turismo na rua”, analisa. Procurada, a assessoria de imprensa do Aeroporto de Brasília afirmou que ainda não tem projeção de voos para o fim do ano no terminal aeroviário.
Publicado por Correio Braziliense