Em briga de marido e mulher, a gente salva a mulher

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Em briga de marido e mulher, a gente salva a mulher

O silêncio não nos protege. É preciso mudar a cultura que ensina que agressões contra as mulheres são aceitáveis e justificáveis no âmbito privado

Durante muito tempo, vivemos a cultura do “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. A violência de que recentemente foi vítima Pamella Holanda revela que ainda não superamos completamente como sociedade esse pensamento. Mas estamos, a passos lentos, conseguindo a mudança desse paradigma através da implementação de novas políticas públicas, da mobilização das mulheres e de iniciativas como campanhas que incentivam a participação da sociedade em casos de violência contra mulher, dentre as quais citamos iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O caso de Pamella, que tomou grande repercussão após a publicação dos vídeos das agressões nas redes sociais da referida influenciadora digital, revela de forma clara como os casos de violência ocorrem de forma escalonada.

O que começou com agressões verbais poderia ter terminado em feminicídio – caso ela não tivesse tido a coragem e a devida orientação para denunciar – já que, como os processos de violência contra mulher correm em segredo de justiça, muitas vezes as vítimas se sentem intimidadas publicar vídeos como esses.

Chama a atenção que as cenas de violência protagonizadas pelo DJ Ivis foram assistidas de forma absolutamente apática pelo funcionário do DJ, Charles de Oliveira, que segundo ele “travou” no momento em que Pamella era cruelmente agredida. É importante observar também que após as agressões ocorridas no dia 1 de julho, Pamella procurou a portaria do luxuoso condomínio onde mora pedindo ajuda, mas ninguém chamou a polícia ou se dispôs a dar a ela algum apoio.

O pedido de socorro foi atendido por uma vizinha que teve a coragem que muitos não tiveram: de “meter a colher”. O DJ encontra-se atualmente preso e foi afastado da produtora onde trabalha. Os contratos cancelados, o prejuízo econômico e a punição social que ele sofreu foram fundamentais para o desfecho do caso, o que só ratifica a urgente necessidade de “metermos” cada vez mais nessas histórias uma “colher” cada vez maior.

Já temos visto, aqui e ali, condenações recentes em casos que envolvem violências brutais contra as mulheres que demonstram inequivocamente que nossa sociedade está cada vezes menos tolerante a esse tipo de agressão, e isso fica ainda mais claro quando pensamos nos efeitos secundários que a divulgação de um caso como esses vem tendo.

A mudança de mentalidade pode até ser lenta, mas ela está chegando, e portanto esses efeitos são importantíssimos para inibir homens covardes e criminosos como o ex-companheiro de Pamella, e para impelir à ação aqueles que não querem mais ser cúmplices de tais agressões.

*Tatiana Moreira Naumann que é especialista em Direito de Família e sócia do escritório Albuquerque Melo.

Publicado por Catarinas