Com 4º maior mercado doméstico do mundo, aviação no Brasil está em rota de crescimento sólido

Com 4º maior mercado doméstico do mundo, aviação no Brasil está em rota de crescimento sólido

Cadeia produtiva da aviação e do turismo no Brasil movimenta US$ 46,4 bilhões, mostra artigo*

O Brasil atingiu, em 2024, o quarto lugar do mundo em voos domésticos, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. A posição segue consolidada em 2025, segundo último relatório da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), divulgado em setembro deste ano. A cadeia produtiva da aviação e do turismo no Brasil movimenta US$ 46,4 bilhões, representando 2,1% do PIB e gerando 1,9 milhões de empregos.

Os números refletem uma resiliência notável de um setor que foi um dos mais atingidos pela pandemia de COVID-19, consolidando uma trajetória robusta de recuperação e crescimento. Os números recentes da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e do Ministério de Portos e Aeroportos não apenas confirmam a volta aos níveis pré-pandêmicos, mas também apontam para a superação de recordes históricos.

O contraste com o período mais agudo da crise é eloquente. Em 2020, a demanda por voos domésticos chegou a cair drasticamente, exigindo medidas emergenciais e um esforço hercúleo das companhias aéreas para renegociar dívidas e manter a estrutura operacional mínima.

A comparação se mostra favorável e otimista: enquanto a pandemia forçou uma reestruturação profunda, o resultado é um setor que se reergueu mais eficiente e com demanda reprimida canalizada. Dados recentes do relatório de demanda e oferta da ANAC dão contade que o Brasil bateu o recorde histórico de 8,5 milhões de passageiros dentro do país ao longo de setembro deste ano, melhor resultado para o mês desde o início da série, em janeiro de 2000. É o 13º mês consecutivo de alta, o que deve levar ao recorde anualem 2025, chegando à marca de aproximadamente 130 milhões de passageiros transportados.

Não obstante o otimismo, é imperativo manter o “pé no chão” ao analisar os desafios que podem frear um crescimento ainda mais pujante. A aviação civil opera com margens reduzidas e é altamente sensível a fatores externos, sendo dois os principais gargalos: custo do querosene de aviação e a judicialização.

Historicamente, o preço do QAV no Brasil é um dos mais caros do mundo, entre 30% e 40% superior ao praticado nos Estados Unidos (ABEAR). Este insumo representa uma parcela significativa dos custos operacionais das companhias aéreas, sendo um fator limitante para a expansão da oferta de assentos e, consequentemente, impactando o preço final da tarifa. A busca por alternativas de política de preços e desoneração é crucial para a sustentabilidade.

Embora a regulação da ANAC seja avançada e reconhecida, o setor ainda é um dos mais judicializados do país. A insegurança jurídica gerada por uma alta taxa de litígios, em grande parte relativos a cancelamentos e atrasos, onera as operações e desvia recursos que poderiam ser aplicados em novas rotas e modernização de frota. O aprimoramento contínuo das normas e a busca por mecanismos de resolução de conflitos mais céleres e uniformes (como a conciliação e a mediação) são essenciais.

O futuro do setor aéreo brasileiro é, sem dúvida, de consolidação e expansão. O aumento da conectividade aérea entre os destinos nacionais, especialmente a Aviação Regional – um foco estratégico do Ministério de Portos e Aeroportos –, irá democratizar o acesso e impulsionar o turismo e os negócios.

A expansão da malha aérea, com a inclusão de mais aeroportos no interior do país, e a modernização da infraestrutura aeroportuária, através de investimentos e concessões, criam o ambiente ideal para a sustentação do crescimento da demanda.

As companhias aéreas brasileiras provaram sua capacidade de adaptação e gestão de crises. O próximo ciclo de prosperidade dependerá, contudo, de um esforço conjunto para atenuar os custos estruturais, em especial o QAV, e garantir um ambiente regulatório ejurídico mais previsível e equilibrado.

O Brasil está decolando rumo ao seu potencial máximo na aviação civil, e o recorde de 130 milhões de passageiros em 2025 será apenas a confirmação de que a rota escolhida é a da prosperidade. É hora de o governo, reguladores estakeholders se unirem para garantir que as asas do setor permaneçam firmes, superando os desafios com a mesma eficiência e resiliência demonstradas na superação da pandemia.

*João Roberto Leitão de Albuquerque Melo é advogado, pós-graduado em Direito Empresarial pela FGV-RJ e sócio-fundador do escritório Albuquerque Melo Advogados; Julia Lins é Chief Legal Officer do Albuquerque Melo Advogados, pós-graduada em Direito Empresarialpela FGV e integrante das comissões Direito Civil, de Direito Aeronáutico, Espacial e Aeroportuário e de Direito Empresarial da OAB/RJ.

Fontes: Portal R7 e Economia S/A